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A qualidade do sono influencia no controle glicêmico no diabetes do tipo 2

O diabetes é uma doença crônica caracterizada por disfunção metabólica que leva a uma elevação dos níveis de glicose sanguínea, afetando diversas partes e funções do organismo, como o coração, vasos sanguíneos, rins, olhos e sistema nervoso. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o diabetes é atualmente uma das principais causas de morte no mundo.


De acordo com Federação Internacional de Diabetes (IDF), estima-se que cerca de 537 milhões e pessoas vivam com diabetes, e a perspectiva é que esse número aumente para mais de 640 milhões até 2040, representando um problema de saúde pública global [1].


No Brasil, a situação alarmante não é muito diferente. Estatísticas do Ministério da Saúde estimam que 12,3 milhões de brasileiros vivem com diabetes, representando cerca de 5% da população. O país também tem uma das maiores taxas de obesidade do mundo, o que contribui para o aumento do número de casos de diabetes tipo 2 [2].


Dentre os tipos de diabetes, o tipo 2 é a mais prevalente, sendo mais comum em adultos. Suas causas são multifatoriais, e inclui a já citada obesidade, fatores genéticos e de estilo de vida.


Influência do sono no controle glicêmico


A principal meta do tratamento do diabetes do tipo 2 é controlar os níveis de glicose sanguínea, seja por meio de medicamentos ou por adoção de dietas restritivas. Mas, atualmente, sabe-se que outros fatores também podem influenciar o controle glicêmico e que muitas vezes não são considerados pelo paciente ou pelo médico.


Dentre estes fatores, destacam-se distúrbios do sono, os quais tem crescido consideravelmente em termos de prevalência na população mundial [4]. A perda parcial crônica do sono devido à restrição da hora de dormir, ou o acesso 24 horas à luz, geram desregulação significativa no ritmo circadiano endógeno. Atualmente, quase 20% dos adultos trabalhadores exercem funções por turnos, uma forma extrema de desalinhamento circadiano [5]


A má qualidade e a privação de sono constituem um fator importante para o desenvolvimento de uma série de desordens, incluindo déficits cognitivos, problemas endócrinos, hipertensão arterial e, mais recentemente, o diabetes. Algumas evidências epidemiológicas têm associado a duração do sono, má qualidade do sono, apneia obstrutiva do sono e desalinhamento circadiano com o diabetes do tipo 2 [6,7].


No entanto, poucos estudos até então avaliaram de forma consistente se a qualidade do sono influencia ou não o controle glicêmico em indivíduos portadores de diabetes do tipo 2, ou naqueles que estejam em estágio de pré-diabetes. Essa é uma questão bastante relevante, pois se o sono for um fator preponderante para o controle da glicemia, alterações na sua quantidade e qualidade podem impactar diretamente na eficácia do tratamento, além de acelerar a progressão da doença.


Estudo científico revela que o sono pode impactar nos níveis glicêmicos.


Visando aprofundar a compreensão acerca do tema, pesquisadores da Universidade de Chicago publicaram um estudo clínico em que avaliaram como o sono de curta duração, má qualidade do sono, ou desalinhamento circadiano estão associados à glicemia, índice de massa corporal e pressão arterial mais alta em adultos com pré-diabetes ou DM2 não tratado recentemente [3].


O estudo avaliou 962 adultos com sobrepeso/obesos com idades entre 20 e 65 anos com pré-diabetes ou diagnóstico recente de DM2 não tratado que completaram um teste oral de tolerância à glicose de 2 horas e questionários de sono validados. Como principal resultado, o grupo de pesquisa descobriu que a duração do sono pode impactar nos níveis de glicose no sangue de pessoas com pré-diabetes ou diabetes tipo 2 [3].


A má qualidade do sono (menos de 5 horas/dia) foi relatada por 54% dos participantes, cujas amostras de sangue, colhidas em jejum, acusaram concentrações mais baixas de insulina, associadas ao aumento das taxas de glicose [3].


Nestes pacientes, as análises revelaram um aumento da hemoglobina glicada (hbA1c) quando comparados a pacientes que tinham um sono regular (7 – 8 horas/dia). Além disso, um sono de mais de 8 horas também foi associado à glicemia de jejum mais elevada [3].


Ambas as durações do período de sono e o trabalho por turnos também foram associados a maior IMC nesta população. O Jet lag social (ou seja, a mudança do horário de dormir e acordar durante a semana e o final de semana) e aqueles participantes que dormiam tarde da noite, também apresentaram a pressão arterial mais elevada [3].


Portanto, apesar dos mecanismos pelos quais os distúrbios do sono levam ao aumento do risco de obesidade e Diabetes não serem totalmente compreendidos, os resultados da pesquisa demonstram que a qualidade do sono afeta diretamente o metabolismo da glicose, e é de grande importância no controle glicêmico no diabetes tipo 2, e em adultos com pré-diabetes [3].


A recomendação é ter um sono de boa qualidade e regular (7 a 8 horas por dia) para garantir um controle glicêmico adequado. Além disso, é fundamental manter os exames de rotina atualizados para garantir o correto manejo e controle do diabetes.


Referências

[1] IDF. What is diabetes. Disponível em: https://www.idf.org/aboutdiabetes/what-is-diabetes/facts-figures.html Acesso em: 03/03/2022

[3] Heinzer R, Vat S, Marques-Vidal P, Marti-Soler H, Andries D, Tobback N, Mooser V, Preisig M, Malhotra A, Waeber G, Vollenweider P, Tafti M, Haba-Rubio J. Prevalence of sleep-disordered breathing in the general population: the HypnoLaus study. Lancet Respir Med. 2015 Apr;3(4):310-8. doi: 10.1016/S2213-2600(15)00043-0.

[4] Mokhlesi B, Temple KA, Tjaden AH, Edelstein SL, Utzschneider KM, Nadeau KJ, Hannon TS, Sam S, Barengolts E, Manchanda S, Ehrmann DA, Van Cauter E; RISE Consortium. Association of Self-Reported Sleep and Circadian Measures With Glycemia in Adults With Prediabetes or Recently Diagnosed Untreated Type 2 Diabetes. Diabetes Care. 2019 Jul;42(7):1326-1332. doi: 10.2337/dc19-0298

[5] McMenamin, T. M. (2007). A time to work: recent trends in shift work and flexible schedules. Monthly Lab. Rev., 130, 3.

[6] Reutrakul S, Mokhlesi B. Obstructive Sleep Apnea and Diabetes: A State of the Art Review. Chest. 2017 Nov;152(5):1070-1086. doi: 10.1016/j.chest.2017.05.009

[7] Anothaisintawee T, Reutrakul S, Van Cauter E, Thakkinstian A. Sleep disturbances compared to traditional risk factors for diabetes development: Systematic review and meta-analysis. Sleep Med Rev. 2016 Dec;30:11-24. doi: 10.1016/j.smrv.2015.10.002.


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